“Preciso de respostas”, “preciso que me diga na cara”, “só assim vou conseguir seguir em frente”
- Sara Neves
- 12 de set. de 2022
- 2 min de leitura
É verdade que uma das formas de processar o luto para algumas pessoas é ter respostas.. mas vamos imaginar que não há forma de as ter? Como podem imaginar, há cenários em que é mesmo impossível: Um pai que morre com o segredo da identidade do filho, ou uma esposa que abandona o marido e desaparece para nunca mais ser vista. Clinicamente, uma das tarefas terapêuticas que tem como objetivo o processamento de assuntos inacabados, é a abordagem da cadeira vazia. Nesta tarefa, o paciente está posicionado de frente para uma cadeira vazia, onde deve “colocar” a pessoa com quem tem o assunto a processar, e o terapeuta posiciona a sua cadeira entre o paciente a cadeira vazia, criando um triângulo entre todos. Ele irá orientar o paciente no processamento da sua dor: reforça-la empaticamente, orientar para a sua expressão saudável, entre outras. É extremamente produtiva quando o paciente está experiencialmente imerso na tarefa, pois ao abdicar de uma resposta física (que muitas vezes não traz qualquer evolução) promove tréguas com a ferida interna ao encontrar respostas numa parte dele compassiva e conscienciosa.
Agora, sobre assuntos inacabados com pessoas que não abandonaram este mundo. Cenários tipo “porque me traiu?”, “porque não responde?”, “porque não me quer?”. Algumas pessoas tornam esta busca por respostas numa tortura pessoal. Envolvendo-se em pensamentos circulares e ruminantes, sem chegar a soluções. A verdade é que há muitos motivos para os outros não nos darem as respostas que tanto queremos: podem não valorizar as respostas tanto quanto nós; podem ter medo de nos magoar; podem não saber a resposta – é exigir demasiado, que toda a gente tenha acesso livre transito à sua vida interna; ou podem mesmo não ter carinho suficiente para querer aliviar o nosso sofrimento – nem todos têm compaixão ou empatia suficiente para satisfazer as últimas necessidades de um enlutado.
Desafio-vos a pensar: será que a nossa necessidade por respostas não pode ser uma tendência antiga de buscar amor não recíproco? Em vez de racionalizar a vida interna dos outros, porque não fazermos address ao que o comportamento dos outros nos faz sentir? Confusos, tristes, rejeitados, negligenciados.. expressem isto e qualquer que seja a resposta verbal, teremos sempre a resposta não verbal: o comportamento! Continua sem ligar? Continua a mentir? Essa é a resposta. Compreender o outro é um bom princípio, pôr-nos nos seus sapatos, esforçar-nos para promover a melhor relação possível. Naturalmente há pessoas que nos magoam mesmo sem terem essa intenção. Mas se depois de expressarmos dor, necessidades por satisfazer, e a forma como contribuímos para a dinâmica “não satisfatória” (isto são outras conversas) ainda temos de procurar mais respostas, ou continuar a fantasiar com os motivos que justifiquem a ação dos outros……
Porque será que isto nos trará mais alívio, que deixar ir um amor não correspondido?
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