Para quê fazer psicoterapia?
- Sara Neves
- 11 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Não gosto da ideia de vender um serviço, portanto esta crónica serve para vos explicar o que faço, porque é que é importante, como é que funciona e para normalizar alguns sentimentos e crenças sobre a psicoterapia.
Começando pelo bê-á-bá: um processo de acompanhamento psicológico é realizado por um Psicólogo, que aplica de forma informada, procedimentos clínicos derivados de princípios psicológicos amplamente estabelecidos, validados e verificados por investigação científica. Ampla investigação científica prova que pessoas que fazem ou fizeram acompanhamento psicológico viram os seus sintomas a reduzir e a qualidade de vida a aumentar – mostrando assim a eficácia da psicoterapia. Também, que não existe diferença significativa entre abordagens terapêuticas – seja cognitiva-comportamental, psicanálise, humanista, existencial, etc –, todas elas são igualmente eficazes, em comparação com grupo controlo “pessoas que não fazem ou fizeram qualquer acompanhamento”. A investigação mostra também que a duração de um processo terapêutico, assim como o seu prognóstico, varia em função das características do cliente – o tipo de problema e sintomatologia, a sua história, os seus objetivos, o que está a acontecer na sua vida fora da sessão psicoterapêutica, e a sua disponibilidade para fazer progressos –, assim como de variáveis do terapeuta, e da aliança.
Vários são os motivos que levam alguém a procurar psicoterapia: podem sentir-se deprimidos, ansiosos ou zangados; podem precisar de ajuda para uma doença crónica que interfere com o seu bem-estar emocional e físico; ainda, podem ter problemas que a curto-prazo precisam de ajuda para resolver (um processo de divórcio, de luto, sentir-se sobrecarregado com o novo trabalho). Também não é incomum que uma pessoa não esteja certa sobre qual seja o problema, sentindo-se triste ou zangada, sem saber a causa ou como parar de se sentir dessa forma. Também pode acontecer que o problema seja tão doloroso, que nem consegue falar nele – um bom psicólogo não o força a fazê-lo, e o trabalho começa com outros objetivos até que o cliente esteja confortável a partilhar a sua dor, eventualmente quando a aliança terapêutica estiver mais sólida.
A aliança terapêutica entre Psicólogo e Cliente, é a base do processo. Na primeira sessão são negociados objetivos partilhados, e no processo da sua concretização promove-se evolução pessoal através da transformação de emoções, pensamentos, comportamentos, e também da estrutura da personalidade – fator que promove que os resultados sejam mais duradouros. O objetivo do meu trabalho é assim, promover que o meu cliente desenvolva um funcionamento saudável na relação com ele próprio e com os outros, que tome decisões deliberadas e em conformidade com os seus valores e objetivos, que se expresse de forma genuína, satisfazendo as suas necessidades da melhor maneira, e por fim, que seja autónomo.
É comum que as pessoas se sintam apreensivas para iniciar uma psicoterapia, além do estereótipo (que a cada dia parece diminuir), a ideia de partilhar os seus aspetos mais íntimos com um estranho pode ser constrangedora ou até ameaçadora. Acredito que não deve haver vergonha em assumir que precisamos de ajuda a resolver problemas: é um sinal de que temos a necessidade de fazer mudanças, para nos sentirmos melhor connosco, com os outros e no Mundo, e só ter a coragem de ultrapassar esta ambivalência é o primeiro passo do processo e também um dos mais importantes porque é a tua dedicação que prediz os teus resultados! Novamente, um bom psicólogo compreende como é difícil este primeiro contacto, e torna o processo o mais confortável possível.
Ora, há outra coisa que se pode esperar ao longo do processo psicoterapêutico: podes sentir-te sobrecarregado, mais zangado, triste ou confuso do que te sentias no início da terapia. Isso não significa que a terapia não esteja a dar resultados, pode ser um sinal em como a terapia te está a incentivar a confrontar dificuldades ou a trabalhar no duro para a evolução. Em todos os casos, estas emoções fortes são um sinal de crescimento, e não um sinal de estagnação.
Se tiverem dúvidas, disponham para as colocar, tenho todo o gosto em esclarecê-las!
Cuidem-se.
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