“Ir ao Psicólogo é falar com alguém”
- Sara Neves
- 23 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
O mito urbano: fazer psicoterapia consiste apenas em sentar-se à frente de um psicólogo e falar nos seus problemas. É verdade que a psicoterapia usa o diálogo como base, mas longe de ser apenas isso, senão toda a gente era psicóloga, e toda a formação e estudo que eu fiz até aqui teriam sido supérfluos.
Tal mito pressupõe que uma pessoa está imediatamente disponível para revelar as suas maiores angústias e vulnerabilidades. Mas são mais os clientes que precisam de tempo a acostumarem-se à ideia de revelar a uma estranha a sua intimidade, que aqueles que começam a “desbobinar” a sua neurose (salvo seja, o termo neurose na minha prática não tem cariz depreciativo: toda a gente é um pouco neurótica, e desde que funcione… está tudo bem).
A psicoterapia tem várias fases, e não se pode avançar para a quarta fase – regulação da responsabilidade – sem consolidar a primeira – construir aliança terapêutica –, ou a segunda – aumentar consciência do self e das suas experiências. A psicoterapia demora o tempo que o cliente precisar para desenvolver a competência da fase.
Para que o cliente desenvolva essas competências, o psicoterapeuta não se limita a ouvir. Que “mudança” (tema da próxima crónica) se pode promover só dizendo “hum-hum”?! O teu psicólogo não vai dizer-te o que deves fazer nem como podes curar-te de uma sessão para a outra. O teu psicólogo vai dar-te trabalho, e isto não vai acontecer na primeira sessão, em que explicas qual é o teu problema; nem naquelas em que ainda a aliança está a ser solidificada; nem vai acontecer enquanto ainda estiveres a tomar consciência da forma como te tratas e de como tens vindo a experienciar a tua vida; nem quando ainda estiveres a desenvolver compaixão pela forma como aprendeste a tratar-te a ti e aos outros.
Nos primeiros tempos poderá parecer que apenas falas da tua experiência, mas estás a fazê-lo, ao serviço do desenvolvimento das competências que cada fase implica.
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