“Dizem que choro demais”
- Sara Neves
- 21 de mar. de 2021
- 2 min de leitura
Nesta crónica, vou entrar um pouco mais em detalhe sobre algumas questões que vou vendo repetir-se nas sessões com os meus clientes.
Como tenho vindo a explicar nas primeiras crónicas, a primeira sessão é fundamental para construir a relação terapêutica, para alinhar expectativas com a realidade, estabelecer as regras das sessões – horário, espaço terapêutico, duração, valor, marcações, entre outras –, explicar o meu papel, estabelecer objetivos terapêuticos, e claro, perceber a queixa do cliente e a sua contextualização na sua história pessoal.
É nesta parte da explicação da queixa, que por várias vezes tenho clientes, especialmente homens, a confessar “disseram-me que devia vir”: ou porque anda muito zangado ou porque anda muito triste, por exemplo. Chegam à sessão a acreditar que algo está errado com eles, por estarem a expressar certas emoções.
Não entrando em pormenores, um cliente dizia que só conseguia chorar, que as pessoas diziam que era estranho ele chorar tanto e que ele devia consultar um psicólogo. Este homem teve um acidente de trabalho grave e muitíssimo traumático, passou por procedimentos médicos na base da incerteza, encontra-se numa posição de não saber o que o futuro lhe reserva, as suas expectativas e planos deitados por terra… e isto tudo aconteceu há 8 dias.
Digam-me, este homem havia de rir? Ele tem mais é que chorar, principalmente nesta fase. Expressar autenticamente as emoções primárias, “ajustadas” ou não, faz parte do processo de luto e de todo o processo terapêutico. Mais tarde poder-se-á continuar o trabalho com reestruturação ou estabelecimento de novos objetivos (caso de verifique), mas nesta altura, em que se está efetivamente em crise, o mais importante é estar plenamente em contacto com o que sentimos – perceber exatamente o que perdemos –, e só mais tarde, podemos então começar a perceber o que precisamos de fazer para nos reorganizarmos.
As nossas emoções sinalizam se as nossas necessidades estão ou não a ser satisfeitas. Quando em pleno contacto com as nossas emoções, temos a oportunidade de decidir qual a melhor forma de as satisfazermos.
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