Como é que ele me vai ajudar? Sabe lá o que estou a passar

Faz sentido que alguém acredite, que outra pessoa na mesma situação dolorosa, saberá exatamente o que está a sentir ou pensar, como a confortar, que tipo de conflitos ou problemas poderá estar a enfrentar e como melhor os resolver. É por isso que existem tantos Grupos de Apoio, que têm tanto poder de transformação e cura, até porque indiretamente criam a sensação de comunidade.

Já todos ouvimos a expressão “como é que ele me vai ajudar? Sabe lá o que estou a passar”. Como disse, existe efetivamente mais confiança na ajuda de pessoas que passem pelo mesmo que nós. Mas isso não exclui ajuda de profissionais que estudam o suficiente para serem competentes mesmo que nunca tenham passado pelas mesmas situações dolorosas. Naturalmente também passamos por elas, e até faz sentido que venham a promover o desenvolvimento de uma empatia acima da média. Mas também pode proporcionar um terapeuta que reproduz a própria vida interna na direção do cliente de tal forma que desvirtua a natureza e foco da terapia no cliente. Qualquer situação tem as suas vantagens e desvantagens: eu confio na qualidade dos psicólogos e que as pessoas devem estar bem-informadas e não cair em mitos urbanos.

O segundo cenário é a consequência do primeiro: o medo – pela sensação de não sermos aceites na nossa dor, e (generalizando) de não sermos aceites na nossa autenticidade, que leva mais à alienação, solidão e compartimentalização da sociedade; mais do que à solidariedade e união. Vejam o exemplo da identidade de género ou da orientação sexual: tal é a sensação de rejeição e julgamento, que hoje se criam rótulos que segregam nichos da comunidade e causam mais confusão que aceitação. Bem sei que a discriminação ainda existe, mas acredito que cada vez mais se aceita a complexidade do Ser Humano, e as represálias recaem nos que abusam, mais do que nos que se expressam.

O conceito que reduziria o impacto destas consequências, que criaria maior confiança na própria genuinidade, na bondade e generosidade dos outros, na sensação de pertença e apoio dentro da comunidade: empatia e aceitação incondicional, naquilo que não ultrapasse os nossos limites – liberdade e integridade emocional e física.